Tabu sobre menstruação: por que precisamos falar sobre isso?
- Eduarda Moro
- 2 de abr.
- 4 min de leitura

Estar "naqueles dias" ou "de chico" são alguns dos eufemismos mais usados no Brasil para evitar dizer a palavra menstruação. Não nomear esse processo tão natural do corpo é um tipo de silenciamento que reforça ainda mais o tabu em torno desse assunto e contribui para o que chamamos de pobreza menstrual. Isso ocorre porque a falta de diálogo sobre o tema perpetua a desinformação e os preconceitos, dificultando o acesso a absorventes e ao conhecimento necessário para garantir mais dignidade menstrual.
Quer outro exemplo prático? Você certamente já viu publicidades de absorventes que nunca mostram sangue ou que ilustram situações que reforçam a vergonha, como mulheres vestindo calças brancas e preocupadas com eventuais manchas na roupa.
No entanto, esse problema vai muito além do que está na mídia; o tabu sobre a menstruação tem raízes históricas profundas e está presente em diferentes culturas, afetando a maneira que a sociedade enxerga e trata o ciclo menstrual até hoje.
Como a menstruação virou tabu?
Documentos históricos mostram que tabus menstruais existem há milênios. Uma evidência disso é que a primeira enciclopédia latina, de 73 a.C., já associava a chegada do sangue menstrual a efeitos negativos na natureza. Outros tabus identificados pelos historiadores variam entre culturas: enquanto algumas comunidades enxergam a menstruação como sagrada, outras a tratam como algo impuro.
Já a origem dessa visão negativa é um ponto de discórdia entre pesquisadores. Algumas teorias apontam para o medo do sangue; outras relacionam o tabu ao controle social e ao domínio masculino. Aliás, há registros de sociedades que, inicialmente, usavam os costumes menstruais para fortalecer a autonomia feminina, mas que, com o tempo, os transformaram em formas de opressão das mulheres.
Além disso, em diversas culturas ao redor do mundo, há indícios de uma conexão curiosa entre a menstruação e os ciclos lunares. O que é certo é que essa relação, presente em diferentes momentos da história, teve forte influência do patriarcado, que produziu mitos que atravessaram gerações.
Desmistificando o tabu
O ciclo menstrual é um processo natural que costuma ocorrer todos os meses com mais da metade da população mundial. Então, isso não deveria ser motivo de tanto rebuliço, mas, infelizmente, a realidade está bem longe disso.
Um estudo do Unicef de 2015 revelou que uma em cada três meninas do sul da Ásia não sabia o que era menstruação antes de vivenciá-la, enquanto 48% das meninas do Irã e 10% da Índia acreditavam que a menstruação era uma doença.
Dica: se ainda não assistiu “Absorvendo o Tabu”, documentário vencedor do Oscar em 2019, vale a pena conferir. O curta, disponível na Netflix, retrata a criação de uma máquina para produzir absorventes biodegradáveis e acessíveis em vilarejos da Índia, onde a desinformação e os preconceitos sobre a menstruação persistem até hoje.
Outro levantamento, da Sempre Livre, indicou que 54% das mulheres entre 14 e 24 anos de cinco países – Brasil, Índia, África do Sul, Filipinas e Argentina — tinham pouco ou nenhum conhecimento sobre o tema ao menstruar pela primeira vez. Além disso, 39% das mulheres pedem absorventes emprestados como se fosse um segredo e muitas tentam esconder que estão menstruadas.
A consequência desse estigma é que milhões de meninas e mulheres ainda sofrem com a vergonha e o isolamento durante o período menstrual.
Com esse tabu, também surgem diversos mitos, como não poder andar descalça, não lavar o cabelo ou não fazer bolo enquanto menstrua. Essas crenças são reflexo da forma como a menstruação foi historicamente associada à impureza e ao pecado.
Como combater o tabu
Não falar sobre menstruação já é, por si só, uma forma de perpetuar o tabu. A falta de diálogo impede a disseminação do conhecimento necessário para enfrentar os desafios da pobreza menstrual e para a aceitação do ciclo menstrual como um processo natural.
Enquanto políticas públicas de higiene menstrual avançam lentamente, organizações e iniciativas independentes fazem a diferença, como o Fluxo Sem Tabu.
Criado em 2020 por Luana Escamilla, a ONG surgiu para combater a pobreza menstrual. Inicialmente, a fundadora realizava distribuição gratuita de absorventes para pessoas em situação de rua em São Paulo. A iniciativa cresceu e, hoje, já impactou mais de 26 mil pessoas, contando com 280 mil colaboradores.

Além da disponibilização de kits de higiene, a organização atua na democratização da informação sobre a menstruação, promovendo campanhas educativas, ações criativas e jogos interativos para quebrar tabus e levar dignidade menstrual a quem precisa.
E você pode fazer parte dessa transformação! Com R$ 25 por mês, você garante absorventes para 5 meninas.
Seja por meio de doações, voluntariado ou compartilhando informações, você pode nos ajudar a construir um futuro melhor.
Muito bom! Aprendo muito com esse blog 😁
Discussão muito importante!